Dedicatória, Costa da Morte

Serão homens a morrer e muitas, muitas vezes eu te tinha

Perguntado:

Quantos anos tem a luz?…Respondem os seres que vieram

Do mundo do fim.

E a mulher que contempla as estrelas conhece os nomes

De todos os rostos.

Como aqueles que escutam vazios, compreendem
a forma

Das cousas: sua essência.

Serão homens a pedir na última noite

Uma passagem entre as águas.

Muitos, de manhã hão partir em sua barca de pedra

Caminho das ilhas da eterna mocidade. Alí,

No Além,

Viram as costas das praias paraíso, e rendem tributo

Ao sol que desce no ponto, por última e única vez.

Porque a história deles já foi escrita, esquecem as palavras,

E habilitam o sagrado edifício.

Outras almas ainda percorrem a rota de Bandua,

De Olomoh,

E chegam até o rio Lethes no sonho de abandonar a dor

No esquecimento. Passaram pela Kallaikia, a Terra verde

Onde partem os mortos à eterna ressurreição;

Onde Breogám o dos braços abertos recebe atento

E compassivo as desfeitas do caminhante.

Os ancestros reclamarão de novo a posse da Terra.

Como os Deus hão de voltar aos altares

Que lhe foram arrebatados na doença dos impérios

Que não têm piedade. E os falsos ídolos serão arrojados

Com o novo ciclo do Sol e a vinda de aqueles que carregam

As águas.

Uma era inaugura baixo o influxo de Aquário e há de chegar

A nós,

Os que residem serenos seremos a memória

Do que resta ainda por vir e do começo convulso dum novo

Caminho

Até as nuvens sagradas.

Não há degraus para subir, tampouco camisas ao vento.

Como límpido será o peito dos seres que fiquem para afirmar

Que há povos que nunca se vendem.

Serão homens a morrer, mulheres a erguer mais filhos sobre

A areia.



(Para André Pena Granha, quem ensinou a escrever a história nunca escrita…)

Artur Alonso Novelhe